Dez dias de combate feroz e uma vitória para a Rússia: caiu o mosteiro de Gornal
EUA admitem concessão à Rússia e Putin já fez a sua proposta: no meio das negociações a Ucrânia parece esquecida.
Um cessar-fogo na Ucrânia pode estar à espreita, ou pelo menos é isso que Kiev espera da reunião que sentará várias delegações mundiais na mesma mesa esta quarta-feira. Em Londres, europeus, americanos e ucranianos vão estar frente a frente com um objetivo comum: negociar um possível acordo que termine com o conflito entre Ucrânia e Rússia.
“Vamos ver uma vez mais o reafirmar do compromisso com a Ucrânia e é provável que exista uma primeira indicação de que a União Europeia quer ajudar os EUA no processo negocial”, acredita Tiago André Lopes, especialista em Relações Internacionais.
No entanto, nas últimas horas o encontro que terá a presença de representantes da Ucrânia, Reino Unido, França e Estados Unidos sofreu uma baixa de peso. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, não estará presente em Londres, optando por ficar em Washington, DC - anuncio mesmo o adiamento da visita em "meses" -, sendo substituído por Keith Kellogg, tido por muitos como uma personagem secundária, que terá a missão de representar a administração norte-americana na reunião.
Para Tiago André Lopes, a ida do general Keith Kellong, em substituição de Marco Rubio "é um sinal de que Washington, DC não valoriza o processo negocial que ocorrerá em Londres”. O especialista em relações internacionais acrescenta que “claramente, os EUA desconfiam dos parceiros europeus e da sua real intenção nestas negociações”.
Em sentido contrário, e noutra reunião crucial, o principal enviado de Donald Trump para a guerra, Steve Witkoff, vai a Moscovo esta semana, num sinal de que é no Kremlin que os Estados Unidos concentram a relevância do assunto.
A reunião de Londres surge num momento de crescente pressão sobre a Ucrânia para responder a uma proposta controversa dos EUA, que inclui a exclusão da adesão da Ucrânia à NATO e disposições para reconhecer a anexação da Crimeia pela Rússia, conforme noticiado pelo Wall Street Journal.
A mesma informação foi confirmada esta terça-feira pelo The Washington Post, que cita três fontes conhecedoras do processo. A proposta, que ao que tudo indica será apresentada esta quarta-feira em Londres, contempla também o levantamento das sanções à Rússia, tendo como contrapartida o cessar das hostilidades de Moscovo contra a Ucrânia.
Uma proposta que dificilmente será validada, já que anteriormente o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, veio reafirmar que Kiev não vai reconhecer formalmente a soberania russa sobre a península anexada em 2014, uma vez que tal pressuposto não cumpre a constituição da Ucrânia.
Ainda assim, as expectativas de Zelensky para a reunião em Londres são elevadas, como o próprio demonstrou numa publicação no início desta semana. “Estamos prontos para avançar da forma mais construtiva possível, assim como fizemos antes, para alcançar um cessar-fogo incondicional, seguido pelo estabelecimento de uma paz real e duradoura”, afirmou, confirmando a presença de uma delegação ucraniana no encontro.
Do lado americano, Donald Trump demonstrou uma visão otimista. “Há uma muito boa hipótese de se chegar a um acordo de paz”, defendeu o presidente dos EUA aos jornalistas, destacando que as conversações recentes têm sido produtivas.
Encontro de Londres vai permitir "a aproximação dos dois lados do oceano à Ucrânia"
Nem só de exigência se fará a reunião de Londres esta quarta-feira. O major-general Agostinho Costa acredita que o momento poderá servir para “um consenso dos dois lados” do oceano, que poderão encontrar aqui uma oportunidade de aproximação.
“Estamos, neste momento, a ver um maior empenhamento dos EUA numa solução para o conflito na Ucrânia. Temos vindo a assistir a uma certa aproximação da posição da União Europeia”, afirma, acrescentando que “desta quarta-feira vai sair muito mais que uma solução entre duas partes, vai haver uma aproximação entre Washington, DC e Bruxelas em torno da Ucrânia”, que “pode não ser a 100%”.
A reunião de Londres acontece num contexto tenso, com questões delicadas no horizonte. Tiago André Lopes observa que a “expectativa é bastante mais baixa” em comparação com encontros anteriores, dado o momento em que acontece: dias depois da morte do Papa Francisco, que “veio tirar um pouco de mediatismo ao encontro, algo que poderá ter peso na reunião”.
O especialista em relações internacionais destaca que o embate sobre apoio militar a Kiev será um dos pontos centrais da negociação, que poderá provocar divergências entre Washington, DC e Londres.
“Se a discussão for sobre o apoio militar à Ucrânia, a opinião dos Estados Unidos continua a pesar bastante. Por isso, Londres e Washington, DC vão certamente embater porque têm visões diferentes neste tema. Ainda assim, não acredito que o embate entre os dois países saia para público, embora seja possível que ele exista”, refere o comentador da CNN Portugal, acrescentando que Trump “controla as informações, pelo que pode pressionar os países aliados de Kiev a repensar as ajudas a dar à Ucrânia”.
"Ucrânia está numa posição muito semelhante à da Alemanha no pós-Segunda Guerra"
Para o major-general Agostinho Costa, a Ucrânia “está numa posição muito semelhante à da Alemanha no pós-Segunda Guerra”, quando foi dividida em zonas inglesa, francesa e americana no oeste e uma zona russa no leste, numa alusão ao facto de Kiev estar em risco de perder as quatro regiões desejadas desde o início da invasão por Vladimir Putin - Lugansk, Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson - e a Crimeia.
Ainda assim, Kiev não mostra a intenção de desistir dos seus objetivos. Tiago André Lopes acredita que a delegação ucraniana, em representação de Volodymyr Zelensky, “vai a Londres pedir um sistema de defesa sério, como o Patriot, e reafirmar que não está disponível para fazer concessões territoriais à Rússia”. Mas a grande questão permanece: até onde os europeus estão dispostos a aceitar as exigências de Kiev, numa altura em que vários países têm recuado nos apoios?
O especialista em relações internacionais lembra que os Estados europeus têm mostrado algumas divergências entre si. “Londres tem a vontade de apresentar uma força militar de interposição da paz, mas o problema é que, ao contrário daquilo que acreditava que ia acontecer, vários Estados europeus como Itália, Espanha ou Alemanha não aceitaram a proposta”, sublinha.
Em termos de apoio financeiro, a maior parte dos países da União Europeia não têm anunciado valores claros para os pacotes de ajuda à Ucrânia, o que tem dificultado a coesão interna, algo que para o comentador da CNN Portugal demonstra uma mudança de direção no apoio fornecido a Kiev.
“Alguns parceiros da Ucrânia já não dão ajudas, mas sim empréstimos”, completa Tiago André Lopes, referindo-se especificamente ao Japão.
Fonte:tvi.iol.pt
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